Nos últimos dez anos, o Brasil testemunhou um alarmante crescimento de 935,31% na população em situação de rua. Isso é o que revela um estudo recente realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com base nos dados do Cadastro Único (CadÚnico). O número de pessoas nessas condições saltou de 21.934 em 2013 para 227.087 até agosto deste ano.
Entre os motivos apontados para essa realidade preocupante, problemas familiares e desemprego surgem como os principais catalisadores. A exclusão econômica, que abrange desemprego, perda de moradia e distância do local de trabalho, é destacada por 54% das pessoas em situação de rua.
De acordo com Marco Antônio Carvalho Natalino, especialista em políticas públicas e gestão governamental do Ipea, “Quanto maior o tempo de permanência na rua, maior a probabilidade de problemas com familiares e companheiros ser um dos principais motivos que levou a pessoa à situação de rua. O mesmo ocorre, e de forma ainda mais intensa, com os motivos de saúde, particularmente o uso abusivo de álcool e outras drogas. As razões econômicas, por sua vez, tais como o desemprego, estão associadas a episódios de rua de mais curta duração”, afirma ele.
Já os problemas de saúde, especialmente os relacionados à saúde mental, são apontados por 32,5% das pessoas em situação de rua, enquanto a fragilização ou ruptura de vínculos familiares é citada por 47,3%.
Um dado relevante revelado pela análise é que 60% das pessoas em situação de rua não residem na cidade em que nasceram, porém, 70% delas permanecem no mesmo estado de seu nascimento. Esse movimento das periferias em direção aos centros metropolitanos se mostra uma tendência predominante.
Diante desse cenário alarmante, o estudo do Ipea destaca a urgência de políticas públicas mais eficazes para abordar as complexas razões por trás do aumento vertiginoso da população em situação de rua no país.