Seculares sapucaias, jacarandás e outros gigantes da Mata Atlântica que já viviam quando os primeiros portugueses pisaram no que hoje é o Brasil se tornaram fósseis de uma floresta à beira do colapso. Essas e outras espécies não estão se renovando nos fragmentos do bioma que restaram no Sul da Bahia, uma das regiões de maior biodiversidade do mundo. O alerta é de um detalhado estudo sobre os efeitos do desmatamento e da fragmentação sobre o que restou da Floresta Atlântica na área.
O desmatamento se alastra como uma doença e impacta diretamente a saúde dos remanescentes. Ele corta as conexões entre populações de plantas e animais, que definham em matas cercadas por plantações e cidades. Os fragmentos de floresta são literalmente comidos pelas beiradas.
“Estamos assistindo ao colapso dos remanescentes. Muitos estão próximos de um ponto sem retorno. São florestas desfiguradas, amputadas, que perderam riqueza de espécies”, afirma um dos autores da pesquisa, José Carlos Morante-Filho, professor do Laboratório de Ecologia Aplicada à Conservação da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), em Ilhéus, Bahia.
O que se vê nas ilhotas de matas em meio a áreas alteradas pelo ser humano — ou antropizadas — é o resultado de um efeito dominó de destruição. Muitas das matas do Sul da Bahia foram derrubadas na década de 1960. A região é uma colcha de retalhos, florestas cercadas, sobretudo, por plantações e pastagens.
Desconectadas e pequenas (a maioria não chega a cem hectares), mesmo áreas que não foram desmatadas passaram a ter uma vegetação mais pobre, semelhante à das chamadas matas secundárias, aquelas que se desenvolvem após a derrubada da floresta original.