“As cidades são construídas por pessoas, para pessoas. Sem isso, os centros urbanos não passariam de grandes aglomerados de concreto”. Esta visão humanista, focada nos cidadãos, foi compartilhada pelo bacharel em Ciências Políticas e especialista em “Inteligência do Futuro” pela UNB, Antônio Carvalho, durante palestra virtual que proferiu na manhã desta quarta-feira (07), exclusivamente para secretários municipais e servidores da Prefeitura de Vila Velha.
Realizado por iniciativa da Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Vila Velha (Semdec), o workshop durou aproximadamente duas horas e fez parte do cronograma de “escutas participativas” da FDC (Fundação Dom Cabral), instituição de renome internacional que há 15 anos é considerada a melhor escola de negócios da América Latina.
A fundação foi contratada pelo município, em 2023, para elaborar e implementar dois importantes projetos para a cidade – “Vila Velha 500 Anos” e “Vila Velha Ágil” –, que vão nortear o processo de melhoria do ambiente de negócios de Vila Velha e garantir sustentabilidade ao seu desenvolvimento econômico, até o ano 2035, quando completará 500 anos de história.
Na palestra online que proferiu para a PMVV, Antônio Carvalho – que é secretário do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Maceió (AL) – defendeu a ideia de que o uso da tecnologia nas cidades deve ser direcionado de maneira que os gestores públicos possam entender melhor a realidade das pessoas, identificar suas dificuldades e seus problemas, para assim estabelecerem uma lógica mais ampla na busca das melhores soluções para cada caso.
Foco nas Pessoas
“Sustentamos o objetivo de fazer a administração pública olhar para determinado território de forma particularizada, regionalizada, com foco nas pessoas, para identificar as característica deste território sob um ponto de visto lógico. Deste modo, quando as políticas públicas chegam aos cidadãos locais, é para atender às suas expectativas e necessidades. Por isso, ações, projetos, programas e serviços públicos inteligentes devem contribuir para a melhoria constante na qualidade de vida da população, em sua própria cidade”, defendeu Antônio Carvalho.
Representante do Brasil no movimento “Cidades Inteligentes” das Organização das Nações Unidas (ONU), cujo foco é o cidadão, Carvalho preside o Fórum Nacional de Secretários Municipais de Inovação. E em sua explanação aos secretários e servidores de Vila Velha, ele também falou na condição de executivo em “Políticas Públicas de Governança e Desenvolvimento”, formado pela Universidade de Harvard (EUA), uma das mais conceituadas do mundo.
“Cidades inteligentes centradas nas pessoas priorizam o bem-estar da população e promovem, de modo contínuo, experiências urbanas inclusivas, acessíveis e assertivas, para todos. Este modelo se destaca ainda por também incorporar elementos que concorrem para aumentar a satisfação da população com sua cidade, no dia a dia”, afirmou o palestrante, após discorrer sobre as diferentes definições para os termos “cidades inteligentes” e “cidades do futuro”, bem como sobre a história da evolução deste conceito em âmbito mundial.
De acordo com Antônio Carvalho, alguns pontos-chave para a sustentação do modelo de “Cidades Inteligentes”, requerem a adoção de medidas ,como:
– Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC): Uso de sistemas de informação e comunicação voltados para a melhoria da eficiência e do desempenho urbano.
– Sensores e IoT (Internet das coisas): Implantação de sensores para coletar dados em tempo real, permitindo monitoramento e análise de diferentes aspectos urbanos, como tráfego, poluição, iluminação pública e uso de energia.
– Gestão Eficiente de Recursos: Aplicação inteligente de recursos, como energia, água e transporte, para reduzir o desperdício e otimizar a eficiência.
– Participação Cidadã: Envolvimento ativo dos cidadãos por meio de plataformas digitais, para compartilhamento de informações e opiniões, e para a colaboração na tomada de decisões.
Cidades do Futuro
Já quando se trata do conceito de “Cidades do Futuro”, Carvalho afirma ser indispensável a adoção de algumas medidas em prol da comunidade, tais como:
– Sustentabilidade Ambiental: Incorporação de práticas e tecnologias sustentáveis para minimizar o impacto ambiental da vida urbana, como energia renovável, design verde e gestão de resíduos.
– Mobilidade Urbana: Ênfase em soluções de transportes eficientes e sustentáveis de passageiros, incluindo sistemas de transporte coletivo de alta qualidade, mobilidade compartilhada e uso de veículos elétricos.
– Inclusão Digital: Garantir o acesso equitativo à tecnologia e à conectividade para todos os cidadãos, para garantir inclusão digital.
– Resiliência: Planejamento urbano que leva em consideração a capacidade de resistir e se recuperar de eventos extremos, como desastres naturais e mudanças climáticas.
“Todos esses conceitos geralmente se referem a ideias e abordagens inovadoras para o planejamento urbano. Mas o fundamental deste debate é fazer com que a gestão pública saia do enfoque tecnológico e estabeleça sempre um enfoque humanista. Porém, o sucesso na implementação dessas ideias depende muito da colaboração entre os setores públicos e privados e, principalmente, do envolvimento ativo de todo o conjunto da sociedade”, acrescentou Antônio Carvalho.
Eficiência Operacional
“Todos os modelos de ‘Cidades Inteligentes’ e ‘Cidades do Futuro’ visam melhorar a eficiência operacional dos centros urbanos, reduzir impactos ambientais e promover o desenvolvimento econômico sustentável. Neste contexto, o indivíduo é visto como peça fundamental da cidade. Mas para que isso seja possível, é necessário garantir: participação cidadã, acessibilidade universal, eficiência em transporte público, preservação ambiental e políticas de promoção da educação, cultura, saúde e da qualidade de vida”, afirmou o palestrante.
Confira, abaixo, alguns conceitos que foram discutidos durante esta palestra:
– Participação Cidadã: Promoção ativa da participação dos cidadãos no processo de tomada de decisões; e utilização de aplicativos e plataformas digitais para envolver a população na discussão de políticas urbanas, projetos e serviços de interesse da comunidade.
– Acessibilidade Universal: Garantia de infraestrutura acessível a todos, incluindo pessoas com mobilidade reduzida, e desenvolvimento de espaços públicos inclusivos que atendam às necessidades de todas as faixas etárias e habilidades.
– Transporte Sustentável e Eficiente: Investimento em opções de transporte público eficientes e acessíveis; e estímulo ao uso de modais de transportes sustentáveis, como bicicletas e caminhadas.
– Qualidade do Ar e Meio Ambiente: Implementação de políticas e tecnologias para melhorar a qualidade do ar e reduzir a poluição atmosférica; arborização urbana e criação de áreas verdes e espaços públicos para melhorar as condições ambientais e a qualidade do ar.
– Tecnologias para Melhoria da Qualidade de Vida: Aplicação de tecnologias para melhorar a eficiência dos serviços urbanos, como iluminação inteligente, coleta de resíduos otimizada e monitoramento ambiental; e uso de dados para personalizar serviços públicos de acordo com as necessidades da população de cada região da cidade.
– Cultura e Educação: Promoção de atividades culturais e educativas para enriquecer a vida comunitária; e incentivo à criação de espaços públicos que promovam interações sociais e culturais.
– Segurança: Investimento em tecnologias de segurança para proteger os cidadãos; iluminação pública eficiente; e sistemas digitais de vigilância para aumentar o monitoramento e a segurança nas áreas urbanas.
– Eficiência Energética: Adoção de fontes de energia renovável; práticas de construção sustentável para reduzir o consumo de energia e água; e conscientização popular sobre o uso responsável de recursos naturais.
“Todos esses elementos são inter-relacionados e formam um modelo abrangente que coloca as necessidades e desejos das pessoas no centro do desenvolvimento urbano. O objetivo aqui é criar ambientes que sejam não apenas eficientes e tecnologicamente avançados, mas que também promovam uma qualidade de vida elevada e uma comunidade mais unida. No Brasil, algumas cidades estão implementando projetos experimentais e parcerias com empresas para testar soluções inteligentes em áreas como transporte, iluminação pública, monitoramento ambiental e serviços digitais para os cidadãos”, concluiu Antônio Carvalho, ao fim de sua palestra.