Até agora a população capixaba está tentando entender o esquema criminoso denunciado pela reportagem do programa “Fantástico”, da TV Globo, que foi ao ar neste domingo (dia 21/01). A matéria mostrou o envolvimento e a participação de Julianna Ritter Lopes (assessora do deputado estadual Delegado Danilo Bahiense) em uma quadrilha de roubo de remédios, em São Paulo. O caso revela uma intricada rede de corrupção envolvendo a compra ilegal e desvio de medicamentos essenciais para o tratamento de pacientes com câncer.
O problema não é apenas o ato criminoso. As pessoas querem saber, de fato, como pode um deputado estadual, delegado de Polícia Civil e presidente de uma das comissões permanentes mais importantes do Legislativo Estadual – que é a Comissão de Segurança e Combate ao Crime Organizado –, nomear justamente uma assessora que tem ligação direta com o crime organizado e com furtos interestaduais de medicamentos contra câncer (os mais caros do mercado)?
O principal questionamento feito em grupos de conversa e redes sociais, é: “Ora, se um delegado de polícia que é deputado estadual e presidente da comissão de Segurança e Combate ao Crime Organizado de uma Casa Legislativa Estadual não sabe nem quem são as pessoas que ele nomeia para trabalhar eu seu gabinete, então, sobre o que ele sabe?”
Sem um resposta plausível para esta pergunta, a Assembleia Legislativa do Espírito Santo anunciou a exoneração de Julianna Ritter Lopes nesta segunda-feira (22), após a denúncia feita em rede nacional pelo programa “Fantástico”. O deputado Danilo Bahiense, ao ser notificado sobre o caso, fez contato com a Polícia Civil de São Paulo para obter mais informações sobre as investigações. Em nota, o parlamentar afirmou que diante dos fatos, a servidora seria exonerada. No entanto, eximiu-se de se justificar sobre a nomeação dela, já que esta prerrogativa cabe exclusivamente ao próprio deputado.
A investigação da Polícia Civil de São Paulo apontou que Julianna e seu marido, Gleidson Lopes Soares, atuavam como compradores dos medicamentos furtados. O Fantástico destacou que o casal também está envolvido em uma ONG de apoio a pessoas com dificuldade de locomoção no município da Serra, e Julianna é sócia da “Saúde e Vida Comércio e Representações”, uma empresa de produtos hospitalares.
Esquema Milionário
O esquema milionário de furto de medicamentos destinados ao tratamento de câncer, provenientes de hospitais e centros de distribuição de órgãos públicos do estado de São Paulo, tinha como líderes Julianna Ritter e Gleidson Lopes, que atuavam no esquema como receptadores das cargas, que eram compradas com dinheiro público e cujos valores chegavam, no caso de alguns medicamentos, a R$ 22 mil por ampola.
Segundo a apuração do programa “Fantástico”, os remédios eram furtados na cidade de Campinas, no interior paulista, e transportados até o Aeroporto de Vitória, por meio de transporte aéreo. Em apenas um dos furtos, o esquema movimentou mais de R$ 1,1 milhão em medicamentos.
Gleidson e Julianna recebiam as encomendas no Espírito Santo e os remédios que não possuíam nota fiscal eram declarados como “doações” para evitar suspeitas das autoridades fiscalizadoras. A investigação teve início em dezembro de 2023, quando o Departamento Regional de Saúde de Campinas reportou o desaparecimento de 79 caixas de medicamentos destinados ao tratamento de câncer. A assessora do delegado Danilo Bahiense, Julianna Ritter, foi relacionada a transferências bancárias realizadas durante as transações.